Cultura, Gente e Gestão, Liderança
A Liderança e a síndrome do super-homem
A partir dessa figura que encarnava a lei e a ordem e que fazia justiça com as próprias mãos, a população da imaginária Metrópolis dormia o sono dos justos. O mais engraçado, ou não, é que o super-homem, via de regra, causava mais estrago do que evitava. Senão vejamos. Ele nunca chegava ao local de um evento pelas vias normais. Não, afinal isso não teria graça. Por isso ele é o super-homem. Ele entra derrubando paredes, levantando carros ou dobrando portas de aço. Usa uma força descomunal para silenciar definitivamente o inimigo. Nunca pergunta nada a ninguém. Já sabe de tudo antes. Chega agindo e imobilizando um a um seus adversários. Aí, sem demonstrar um único sentimento sequer por aqueles a quem protegeu, dá um salto no ar e volta ao espaço para lugar desconhecido, para em seguida voltar disfarçado. Veja bem, volta à cena como um humano comum.
Sem abusar da sua paciência caro leitor, está na hora de trazermos essa figura para o tema central. A ideia americana de encarnar o salvador da pátria e de todas as pátrias continua em pleno vigor. Cada vez dando menos certo, já que o mundo vai entendendo que a guarda dos valores de cada cultura e sociedade, só pode estar em uma única mão. Nas mãos de seu próprio povo. Nas mãos de cada cidadão e de cada comunidade, que ainda se interessa em mantê-los vivos.
O super-homem, em suas histórias nos quadrinhos ou na telona, não torna melhor os seus protegidos, só os mantém vivos. Sobreviventes com a certeza de que se não fosse algo sobre humano e irreal, eles não poderiam resolver sozinhos seus problemas. O super-homem, a pretexto de salvá-los, configura neles a incapacidade de sobreviver e de criar soluções próprias. Os torna dependentes de algo irreal.
O que tem a ver a liderança com o super-homem
Agora duro mesmo é reverter a síndrome do super-homem na figura dos gestores e líderes da atualidade. Influenciados que ainda somos pela cultura americana, estamos aprendendo a duras penas que não há mais espaço para a liderança que age sozinha. Que usa a força para resolver as situações, que escolhe lados para defender. Que toma pra si exclusivamente o papel de condutor do enredo, roubando todas as cenas e mostrando o lado humano como fraco das pessoas. Por isso mesmo, merecedor de disfarces e amparo. Cada vez mais as organizações empresariais e mesmo as militares e eclesiásticas, procuram um papel novo para essa figura do gestor de pessoas.
E como parte desse processo, estamos tentando entender como se obtém resultados fazendo parte do “lado fraco”. Não tendo superpoderes e sendo obrigado a compartilhar lado a lado com outros humanos, ouvindo suas diferenças, seus desejos, suas necessidades. Talvez falemos tanto nesse tema, porque ainda estamos atrás de fórmulas irreais e fantásticas, que no fundo nos façam sentir protegidos. Mas a dura e única realidade é que o super-homem não virá. E como é bom que ele não venha! Pois só assim teremos a chance de crescer enquanto pessoas. Apenas sentindo o poder em nossas próprias mãos é que nos encorajaremos a caminhar mais, a crescer e a descobrir coisas únicas, e também fantásticas que temos dentro de nós. Ao descobrir que somos líderes naturais, que precisamos ser líderes das nossas vidas, das nossas escolhas mais profundas, traremos para nossas mãos a responsabilidade sobre as consequências das nossas ações. Assim como também sobre aquilo que fazemos e que afeta o outro à nossa volta. Ah, o super-homem não virá!